Filosofando terapias ou praticando terapias filosóficas ... eis a questão.
Terapia baseada na Filosofia promete
solucionar angústias do homem
Por Ricardo Ferraz
São Paulo (AUN - USP) - Imagine que ao encontrar um
pequeno dilema em sua vida, você pudesse sentar e discuti-lo com Sócrates,
Platão, Kant ou Nietzsche, do mesmo modo que costuma se fazer com um psicólogo ou algo assim que propõe a Filosofia Clínica, uma terapia que usa a
Filosofia para solucionar as questões do cotidiano. Em debate na Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a filósofa clínica Monica Aiub
apresentou a polêmica técnica, e respondeu às críticas da platéia e do
debatedor Vladimir Safatle, filósofo dessa universidade.
A ideia de usar a
Filosofia para tratar as angústias do homem remonta ao início dessa ciência, na
Grécia Antiga, quando os primeiros filósofos atendiam pessoas em busca de
aconselhamento. Sócrates, por exemplo, era chamado de médico da alma. Nos anos 80, a
Filosofia Prática, surgida na Alemanha, resolveu recuperar essa possibilidade.
A abordagem foi trazida ao Brasil ainda no final daquela década pelo filósofo
gaúcho Lúcio Parckter, com o nome de Filosofia Clínica. Nela, uma pessoa com
que enfrenta alguma questão em sua vida recorre à ajuda de um filósofo, para
juntos pensarem em uma resposta.
Do mesmo modo que a
psicoterapia, a terapia filosófica começa com o filósofo conhecendo
profundamente seu paciente, que no caso é chamado de partilhante. Com isso, é
possível contextualizar a questão que ele trouxe, dentro de seu estilo e
história de vida. De acordo com Mônica, são três eixos estudados pelo filósofo
para que possa pensar os problemas do partilhante. Primeiro se analisa o
entorno dessa pessoa, suas relações com a cultura em que vive e com seus
semelhantes. Depois, analisa-se a estrutura de seu pensamento, como ela se
constitui naquela realidade. Por fim, a atenção se volta ao modo como ela reage
a tudo isso, a ação daquela pessoa.
A partir do momento
em que é identificado o que se passa com o partilhante, começarão a surgir as
dúvidas, que serão pesquisadas junto com ele. Mônica diz que a Filosofia
Clínica não trabalha com o conceito de patologias, e tão pouco com a ideia de
normalidade. O objetivo é apenas que a pessoa entenda o que acontece consigo, e
talvez a partir daí se organize e resolva seus problemas.
Nosso trabalho é
provocar, para que a pessoa se situe, explica.
Outros filósofos,
como Vladimir Safatle, discordam do uso da filosofia como uma terapia. Para
ele, é inegável o poder da fala, de se melhorar a vida de uma pessoa
organizando seus pensamentos, porém isso não pode ser definido como terapia. A Filosofia pode
ser vista como terapêutica, assim como o cinema ou a música, mas não chamada de
terapia diz. Safatle ainda argumenta que não existe uma perspectiva filosófica
para tratar problemas pessoais, já que as teorias são inúmeras, e se todas são
válidas, nenhuma o é.
Monica rebate esse
argumento dizendo que, apesar dos vários conceitos filosóficos, todos partilham
a mesma base, que é a busca do conhecimento para benefício do ser humano. Ela
diz que essa aproximação da filosofia com a Medicina existe desde a criação das
duas ciências, e o que a Filosofia Clínica faz é recuperar essa relação. Porém,
ela admite que existem casos em que não é possível fazer uma abordagem
filosófica do problema.
Justamente nesse ponto que reside a principal crítica à Filosofia
Clínica, a impossibilidade desta em lidar com graves problemas psicológicos.
Psiquiatras e psicólogos acreditam que a terapia filosófica pode atrapalhar o
tratamento de graves neuroses, como a esquizofrenia e o transtorno bipolar.
Apesar de Monica afirmar que os filósofos clínicos recebem um treinamento
através do qual é possível identificar problemas desse tipo, e então encaminhar
a pessoa para um tratamento adequado, isso não parece convencer os críticos da
abordagem
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